Quem dera se o único problema do
apressado fosse comer cru. Estudos demonstram que fazer refeições em ritmo
acelerado tem repercussões imediatas e de longo prazo no organismo. Um desses
trabalhos, publicado por pesquisadores da Universidade de Warwick, no Reino
Unido, analisou o que aconteceria a dez mulheres obesas quando elas comessem em
dez minutos e, num segundo momento, em 40. Acredite: essa diferença de meia
hora mudou muita coisa. Ficou evidente, por exemplo, que as participantes
tiveram um gasto energético maior quando comeram em 40 minutos. É que, com as
garfadas pausadas, o corpo torraria mais calorias durante a mastigação e a
digestão dos alimentos. "E isso, ao longo do tempo, pode facilitar a perda
de peso", diz o endocrinologista Thomas Barber, um dos responsáveis pela
experiência.
O
primeiro passo para a refeição durar mais que um piscar de olhos e o sinal da
saciedade ser disparado é mastigar direito. Parece fácil, mas está aí um grande
desafio. Segundo o endocrinologista Renato Zilli, do Hospital Sírio-Libanês, na
capital paulista, as pessoas dão, em média, seis mordidas antes de engolir os
alimentos. "Porém, estudos indicam que o ideal seria mastigá-los de 30 a
50 vezes", conta o médico, que considera a meta muito difícil de ser
alcançada. "Peço para os meus pacientes chegarem pelo menos a 20
mastigadas", diz. Não é moleza, mas compensa e vale a pena por questões
que vão além do ganho de peso. Ter calma à mesa favorece, por exemplo, a
digestão – o papo de que esse processo começa na boca não é balela.
Agora,
de nada adianta intercalar garfadas com cenas da sua novela favorita ou trocas
de mensagens pelo celular. Mesmo que o uso desses aparelhos prolongue a
refeição, você não está a salvo de prejuízos. "Se não focar na comida, é
possível que em dois minutos já nem se lembre do que ingeriu", exemplifica
a nutricionista Marle Alvarenga, uma das idealizadoras da Nutrição
Comportamental, movimento que tem como objetivo ensinar as pessoas a comer com
atenção plena. Ora, passar por uma amnésia alimentar acaba culminando em
beliscos fora de hora - e eles dificilmente são saudáveis.
Por
essas e outras, o momento das refeições não deve ser encarado como oportunidade
para realizar outras atividades. Nessa hora, a comida precisa ocupar papel de
protagonista: concentre-se no seu cheiro, visualize as cores dos ingredientes,
sinta os sabores presentes no prato... "Isso tudo também estimula a
saciedade", afirma Marle. A pressa, não resta dúvidas, é inimiga da
perfeição... à mesa.
Por uma refeição mais longa
Algumas táticas
podem ajudar a criar o hábito de se alimentar com calma. Pela sua saúde, vale a
pena conhecê-las
Prepare
a mesa e evite distrações
Não precisa de requinte. Usar um jogo americano
já dá vontade de passar mais tempo sentado. Mas não ligue a TV e fique
longe do celular!
Envolva a família toda
Quem não mora sozinho deve buscar companhia para ficar em volta da mesa. Um bom
papo tende a estender o tempo das garfadas - só não vale abusar delas.
Comece pela salada
E monte-a com itens mais duros (como a cenoura), que exigem mastigação. Ao
chegar ao prato principal, o cérebro logo receberá o sinal de saciedade.
Descanse os talheres
Após cada garfada, repouse a faca e o garfo ao lado do prato. Ao segurá-los o
tempo todo, a tendência é emendar uma abocanhada na outra, sem descanso.
Use garfos menores
Assim, cabe menos comida no talher. Para um desafio maior, você pode até usar
hashi, os palitinhos japoneses. É garantia de bons minutos extras à mesa.
Vá de alimentos sólidos
No início do treino para desacelerar a refeição, prefira ingredientes mais
resistentes. Por exemplo: troque o purê pela batata.
Planeje suas refeições
Não é necessário ter horário fixo. Mas, se você já sabe como será seu dia, não
custa reservar 20 minutos para se alimentar. Esse momento precisa ser
valorizado.
Não deixe a comida miudinha
Se você fizer isso com a carne, por exemplo, mastigará menos. Para crianças, a
dica é não bater a comida no liquidificador. O melhor é amassar a papinha
mesmo.
(Fonte: Revista Saúde)
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